sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Kardecismo como Espiritismo: Um Conceito

 


Bismael B. Moraes


Conceituar é indicar o sentido ou dizer o porquê de alguma coisa. Assim, falar de Kardecismo é referir-se ao Espiritismo como Doutrina, uma vez que esse conjunto de princípios foi passado a Kardec pelos Espíritos. (Aliás, muitos irmãos identificam-se como kardecistas, não se apresentando como espíritas, buscando não se expor a críticas e gracejos aos que não estudaram e desconhecem o Espiritismo e confundem a Doutrina dos Espíritos com outras seitas e crendices).


Allan Kardec, pseudônimo do Professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, nascido em Lyon, França, a 3 de outubro de 1804, filho de pai juiz e mãe professora, e que estudou em Yverdun, Suíça, com o educador Henri Pestalozzi, é o codificador da Doutrina dos Espíritos - o Espiritismo.

Estudioso de filosofia e pesquisador incansável, escreveu várias obras no campo da educação formal, tais como "Curso Prático e Teórico de Aritmética", "Gramática Francesa Clássica", "Soluções Racionais das Questões e Problemas de Aritmética e Geometria", "Programa dos Cursos Usuais de Química, Física, Astronomia e Fisiologia", "Ditados Especiais sobre as Dificuldades Ortográficas", e tantas outras. Foi mestre no Liceu Polimático. Era, sem dúvida, um espírito altamente qualificado, moral e intelectualmente,
estando preparado para a tarefa de registrar e provar a pluralidade das existências, quando muitos ainda falavam de mistérios, fantasmas, e "fenômenos sobrenaturais".

Depois de longo período triste da Idade Média, em que era proibido pensar e - mais do que isso - externar o que não fosse ao agrado da Igreja de então, novas luzes se acenderam para a humanidade, nos séculos XVIII e XIX, brilhando a filosofia e expandindo-se a ciência. As ponderadas observações do Professor Rivail, com base em deduções lógicas e sustentação em princípios científicos, o levariam a formular uma Doutrina sólida, alicerçada no tripé - Filosofia (trabalhando com o pensamento e as idéias), Ciência (trabalhando com a experimentação e a prova) e Religião (desta, extraindo, basicamente, os ensinamentos morais e a fé raciocinada). Dissecou as leis de ação e reação, demonstrou que não há efeito sem causa e fez ver a todos como se processam as relações entre o mundo visível (perceptível pelo nossos pobres sentidos) e o mundo invisível. Os chamados "fenômenos espíritas" deixaram de ser objeto de curiosidade, temor ou gracejo, passando a ser estudados com seriedade e respondendo a todas as questões do ser humano.

Com as cinco obras básicas do Espiritismo - "O Livro dos Espíritos" (filosofia), "O Livro dos Médiuns" (ciência), "O Evangelho Segundo o Espiritismo" (moral evangélica), "O Céu e o Inferno" (sobre a justiça divina) e "A Gênese" (analisando a Terra e o Universo, assim como os milagres e os predições), - a que chamamos de pentateuco kardequiano, trabalhos que foram escritos entre 1857 e 1865, além de inúmeros outros, Kardec estabeleceu a Doutrina dos Espíritos ou o Espiritismo Cristão. Sucumbiram os dogmas seculares que têm atrasado a caminhada da humanidade em busca da verdade, da luz, do esclarecimento, porque, dotados por Deus - causa primária de tudo - do livre arbítrio, somos todos capazes de fazer nosso destino, ultrapassando os obstáculos e os sofrimentos, vida após vida, desde que modifiquemos o nosso comportamento e persistamos na prática do bem.

O Espiritismo só poderia estruturar-se como Doutrina quando houvesse o progresso da ciência e da filosofia, dissipando a ignorância e o medo. Não bastava dizer: "não acredito", ou : "isso é coisa do demônio", ou, ainda: "é invencionice de herege". Era necessário estudo ou, no mínimo, vontade de aprender, pois todos somos capazes de assimilar a nossa condição de espíritos imortais, no campo de provas e expiações que é o planeta Terra: nascendo e renascendo, ora como homem, ora como mulher; ora como negro, ora como branco ou como amarelo; ora como rico, ora como pobre; ora com saúde perfeita, ora com deficiências, até que, pelas inúmeras vidas físicas, possamos aperfeiçoar-nos e fazer do amor ao semelhante a lei básica do progresso espiritual.

Por tudo isso e por muito mais, falar de Espiritismo como Doutrina que mostra ao ser humano quem ele é, de onde vem e para onde vai, e qual é a sua tarefa em cada existência na Terra, é ligar-se ao kardecismo, pois foi Allan Kardec que teve a missão, passando por sarcasmos, ataques e descrenças de seres menos esclarecidos, de registrar os ensinamentos dos Espíritos e legar à humanidade o conhecimento dos dois planos da vida: o físico, passageiro e de aprendizado, e o espiritual, eterno e libertador.

Falar bem ou mal da Doutrina Espírita, sem conhecer a obra de Allan Kardec, requer ponderação, para evitar surpresas e por respeito ao grande codificador do Espiritismo.

 

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